Com a aquisição de uma nova companheira de viagens, a BMW R1200RT e já com duas experiências a nível nacional com avaliação muito positiva num total aproximado de 1200 km e duas visitas ao centro do país que incluíram, a visita a Góis (“22ª Concentração Internacional de Motos – Góis”) e à Serra da Estrela (“XXXVI Encontro Nacional – Folgosinho / Serra da Estrela – GMMG – Grupo de Motociclistas do Montepio Geral”), o vicio e a paixão por esta menina de duas rodas estavam definitivamente assumidos e a próxima etapa à vista… a primeira viagem fora de fronteiras!
O destino, Tordesilhas, prometia… a distância equilibrada de quilómetros para quem já planeava “voos” mais altos, a estreia num encontro de motas do mesmo modelo, ainda por cima o primeiro a ser realizado (“1º Encuentro Ibérico da la BMW RT”) aliado a um local com história fazia desta viagem a viagem ideal.
LAVRA / TORDESILHAS
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Já passava das seis e meia da tarde quando nos pusemos a caminho conscientes que íamos fazer a viagem mais longa destes quatro meses em que por estas andanças nos metemos, que decorreria maioritariamente durante a noite, o que também seria uma estreia, e onde inevitavelmente teríamos que enfrentar as condições climatéricas características do Outono.
Usando o equipamento apropriado para a altura do ano no que diz respeito à parte superior, a viagem decorria sem sobressaltos e até de uma forma agradável até ao cair do sol e mesmo no início da noite.
Algum desconforto resultante das finas calças de ganga que usávamos ia-se acumulando mas o entusiasmo de atravessar pela primeira vez a fronteira faziam que o mesmo nem se notasse.
Eram precisamente 19:55 (hora portuguesa) ou 20:55 (hora espanhola) quando paramos para registar para a posterioridade a primeira internacionalização.
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Faltavam ainda cerca de 250 km até ao nosso destino final e ainda estava para vir a parte que acabou por ser a mais memorável desta viagem…
Com o passar do tempo e o acumular de quilómetros o frio que até ali nem notávamos começou aos poucos a aparecer. E se até aos 10 graus era perfeitamente suportável mesmo com a falta das calças adequadas, quando a temperatura começou a teimosamente descer dos dois dígitos a situação começou a mudar de figura… Começaram por gelar os joelhos e essa sensação rapidamente se estendeu a toda a perna…
E se até ali até vínhamos a curtir uma musiquinha estas novas sensações de desconforto fizeram com que déssemos maior uso aos intercomunicadores para ir trocando impressões sobre esta adversidade, nova para nós. Inicialmente a ideia até foi aguentar um pouco mais até estamos a apenas a uns 100 km do destino de forma a que não necessitássemos de efetuar mais nenhuma paragem. Mas os 7 graus que se chegaram a fazer sentir na zona do Lago de Sanabria, a norte do Parque Nacional de Montesinho fizeram-nos mudar de ideias...
De repente já nem o aquecimento dos punhos e dos bancos da mota, já há algum tempo ligados na tentativa de minimizar os efeitos de tão baixas temperaturas, faziam efeito e o frio começou a alastrar a todo o corpo tornando inevitável uma paragem.
Na zona de serviço situada numa localidade fantasma (San Cebrián de Castro), com um aspeto exterior medíocre mas com um interior surpreendentemente novo e acolhedor aproveitamos então para recarregar energias com uma bebida quente e aconchegar as roupas que trazíamos numa tentativa de enfrentar melhor os cerca de 150 km que ainda faltavam.
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Aquela paragem retemperante juntamente com o progressivo afastamento daquela zona montanhosa que fez com que a temperatura voltasse a subir até aos 14 graus fizeram com que o final da viagem ocorresse de forma tranquila e logo, logo chegamos ao nosso destino, eram uma onze e meia da noite, hora espanhola.
A VILA DE TORDESILHAS
Tordesilhas, em castelhano “Tordesillas” é um município espanhol na província de Valladolid com a área de 141,95 km2 e cerca de 9000 habitantes. População pequena, portanto, mas célebre por ter sido o local onde, em 1494, foi assinado o “Tratado de Tordesilhas” que estabeleceu a divisão das terras, entre o Reino de Portugal e Espanha, na altura dos descobrimentos marítimos.
Com a manhã livre para podermos explorar por nossa conta esta pacata localidade situada nas margens do rio Douro em breve descobrimos que o nosso hotel estava a cerca de 500 metros de todos os seus pontos de interesse e portanto a mota continuou parada em frente ao átrio onde tinha pernoitado.
Mesmo em frente ao hotel chamado "Torre de Sila" era bem visível a mesma...ou seja, a torre, na qual se abre um pontilhão de arco apontado que delata a sua origem medieval, que constitui o único vestígio da existência de uma muralha que rodeava toda a vila, feita em pedra, tijolo e taipal.
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Mas era em busca das reminiscências da história de “JUANA”, “La Loca” que nos dirigimos á sua zona mais central
À parte do tratado, que no dia seguinte fazia parte do roteiro com a visita ao museu local sobre o mesmo, em frente ao mesmo encontramos a ESTÁTUA desta "rainha" que nos recorda que foi esta pequena localidade foi também palco da vida em cativeiro e morte em 1555 desta figura intrigante da coroa espanhola, filha dos reis de Espanha Fernando e Isabel que se viu envolvida em historias de traições e jogos de poder que a afastariam do trono espanhol em detrimento de seu irmão Carlos.
Trancada durante quase meio século num palácio que já não existe por ter sido demolido, reza a história que chegou a este local em março de 1509 acompanhada do corpo do seu marido Filipe “O Belo”, que tinha morrido dois anos antes, cumprindo o desejo do mesmo de aí ser enterrado e de sua filha, Catarina, futura rainha de Portugal, última lembrança que seu marido lhe deixara no ventre. Rotulada como louca para assim evitar a sua coroação como rainha diz-se que foi na IGREJA DE SÃO ANTOLIN, local onde foi enterrado o seu marido Filipe, que subiu à sua torre para se mostrar á população e lembrar ás pessoas que ali estava cativa.
Uma curiosa escultura em madeira da autoria do artesão Humberto Abad também relata este episódio de uma forma mais dramática...
Decidimos então "perder-nos" pelas estreitas ruelas empedradas da zona histórica e pelo caminho encontramos o Real Convento de Santa Clara, edifico do século XIV que nos mereceu uma especial atenção.
Visto o centro da cidade estavam ainda planeadas umas curvas pelas redondezas em busca de eventuais tesouros perdidos que não constassem do mapa...
Já de mota atravessamos a ponte medieval e deparamo-nos com um bonito cenário junto ao rio, digno de uma foto da RT para a celebridade.
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Alguns quilómetros volvidos foi fácil chegar à conclusão que estávamos no meio do nada!
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Estava na hora de regressar e assim juntar-nos ao grupo que se avolumava na "PLAZA MAYOR" vindo de todas as partes da Península Ibérica para o 1º Encontro Ibérico da BMW RT.
fotos da plaza mayor com as motas gopro
Ainda houve tempo para almoçarmos as típicas tapas na esplanada da praça
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E após assistirmos à abertura oficial do encontro partimos em caravana para uma das visitas programadas pelo evento à adega de "Prado Rey"
BODEGAS PRADO REY
Numa região demarcada de vinhos de "Rueda" impunha-se uma visita a uma adega já de renome internacional e que se caracteriza pelo uso das modernas tecnologias na sua confecção.
Durante a visita assistimos a um filme 3D que nos mostrou as várias fases do processo de elaboração e depois pudemos ver "ao vivo" a sala onde tudo se passa.
Esperava-nos, por fim, um curioso "túnel dos sentidos", um espaço que nos permite iniciar na arte de apreciar os vinhos utilizando os sentidos... todos menos um, a audição!
Terá sido por isso que foi criado o "brinde"?
Segundo a mitologia grega Dionísio, Deus do vinho, deu uma festa no Monte Olimpo e convidou os sentidos humanos: a visão estava enaltecida com a cor da bebida, o ofato encantado com o bouquet, o gosto com o paladar agradável... exceto a audição, que não desfrutava de nenhum prazer. Para agradar o seu convidado Dionísio propôs que batessem seus copos uns contra os outros tilintando o que viria a ser a "musica" daqueles que gostam de vinho
Mas relatos históricos desmistificam esta história e relacionam o brinde com a pratica corrente de envenenamentos através da bebida...Assim, por segurança, os anfitriões enchiam por completo os seus copos e com menos vinho os dos seus convidados para, na altura de beber, chocaram fortemente as suas taças fazendo com que o liquido passasse de uma taça para a outra. Assim, se estivesse envenenado, todos morreriam.
Um dia em cheio que terminaria á noite com um jantar convívio no restaurante "Los Toreros"
MUSEU DO TRATADO DE TORDESILHAS
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O programa de domingo passava pelo ponto mais turístico desta localidade que para sempre ficará conhecida como o local em que Portugal e Espanha dividiram o mundo entre eles, o Museu do Tratado.
Localizado num edifico do século XV este museu reflecte os aspetos históricos, geográficos e políticos do momento e acima de tudo oferece a perspectiva do mundo antes e depois do tratado…
Retrocedendo no tempo, começamos uma viagem histórica à época dos descobrimentos mais precisamente à altura em que Cristóvão Colombo descobriu a América quando tentava atingir a Índia navegando para ocidente. As terras assim descobertas ao serviço dos reis católicos de Espanha situavam-se a sul do paralelo definido pelo anterior Tratado de Alcáçovas e portanto deveriam pertencer a Portugal. O conflito instalou-se entre os dois reinos e acabou por ser resolvido por via negocial, lavrada perante dois notários de cada país, definindo-se um meridiano situado a 370 léguas de Cabo Verde, sendo pertencentes a Portugal as terras descobertas até essa linha e ao reino de Castela e Aragon as que ficassem a oeste da mesma.
Não aceitando a versão inicial proposta pelo Papa Alexandre VI em que tal meridiano se situava a 100 léguas de Cabo Verde, com a desculpa de que os barcos para navegar para o sul de África necessitavam da ajuda dos ventos alísios, a verdade é que com esta mudança que ficou lavrada no dia 7 de junho de 1494 ficou a pertencer a Portugal o território brasileiro só descoberto oficialmente no ano de 1500.
Teria sido curioso encontrar na rua (em grafiti) outra forma de representar a partilha da terra nova pelos dois impérios mas acabamos por não o vermos ficando só aqui a imagem que em pesquisas prévias sobre a viagem me tinha aparecido na internet.
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O REGRESSO
Com a chuva a ameaçar desde sábado ao final do dia e tendo mesmo chovido na noite de sábado para domingo, a verdade é que durante a manhã esta não se fez sentir chegando mesmo a espaços o sol a brilhar.
A perspetiva de um regresso a casa molhado criava alguma expetativa em relação à viagem até porque os fatos de chuva recém adquiridos, ainda por estrear e que nem da embalagem inicial tinham sido tirados até a essa altura, se revelaram enormes apesar do seu tamanho "S". O ideal seria mesmo não serem utilizados para uma mais fácil devolução.
Com o tempo a ajudar a tentadora ideia de na viagem de volta fazer o percurso por Salamanca em vez de pelo norte de Espanha era cada vez mais forte. Localizada a cerca de 60 km e desconhecida de ambos, não podíamos desperdiçar a visita a esta cidade.
E ainda bem que o fizemos pois Salamanca surpreendeu-nos de forma muito positiva.
SALAMANCA
A uns escassos 117 km da fronteira portuguesa, na província autónoma de Castilla y Léon, no centro de Espanha, Salamanca é uma encantadora cidade monumental conhecida por "cidade dourada" graças à pedra de arenito usada nas construções mais antigas.
Chegados ao centro histórico, classificado Património da Humanidade pela Unesco depressa nos deixamos cativar por aquela movimentada cidade universitária com pontos de interesse ao virar de cada esquina.
Desde logo a IGREJA DE LA CLERECÍA nos fez parar e só a enorme fila que se podia ver á porta nos impediu de subir a uma das suas torres onde com certeza desfrutaríamos de uma belíssima vista panorâmica sobre a cidade
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Chegados ao verdadeiro coração da velha Salamanca vimo-nos rodeados pelos vários edifícios da sua famosa UNIVERSIDADE, a mais antiga da Península Ibérica, e pela sua "dupla" CATEDRAL: a velha, edifício romântico construído no século XII e XII e que se tornou pequena demais quando a cidade aumentou por "culpa" da Universidade e a nova que está "colada" (e mesmo ligada por dentro) á primeira, erigida no século XVI numa estilo gótico tardio típico do renascimento espanhol.
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Enquanto percorríamos as suas ruas fomos reparando com uma imensidão de "recuerdos" todos com um tema comum: um sapo/rã. Ao questionar sobre este assunto um vendedor local ficamos a conhecer uma antiga lenda da Universidade de Salamanca: A lenda diz que o estudante que conseguir encontrar a rã que se encontra sobre uma caveira na fachada da Universidade junto á Plaza do Pateo das Escuelas Menores terá sorte nos estudos e será aprovado nas suas provas universitárias. Caso não seja estudante, segunda a mesma lenda, deverá fazer um pedido à rã e esse desejo se realizará...
Verdade ou não, nós encontramos a rã...
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E trouxemos um "regalo" que não podia ser mais apropriado...
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De volta ao local de partida passamos ainda pela "CASA DAS CONCHAS", emblemático exemplar da arquitetura gótica que hoje alberga uma biblioteca pública.
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Faltava apenas fazer uma visita á PLAZA MAYOR, considerada uma das mais belas da Europa, construída no século XVIII, em estilo barroco, é emoldurada por uma galeria com 88 arcos e o ponto de partida para as "calles" Toro e Zamora, centro nevrálgico do comércio e restauração.
Foi neste cenário que fizemos uma breve pausa para um também breve almoço.
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Dando por muito bem empregues os quilómetros a mais realizados para visitar esta cidade e todos os minutos que por lá passamos, estava na hora de seguir viagem, até porque umas ameaçadoras pingas de chuva já se tinham feito sentir embora só por alguns instantes.
Não sem antes fazer uma curta paragem junto ao Rio Tormes para ter uma visão panorâmica da cidade
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E foi com esta magnifica paisagem de pano de fundo que nos fizemos ao caminho...
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Ainda com a agradável surpresa que a inesperada visita a Salamanca nos tinha proporcionado a viagem até à fronteira decorreu sem qualquer sobressalto embora com o céu a ficar cada vez mais negro...
A fatídica chuva chegaria quase logo depois da entrada em Portugal, quando numa pausa para café na área de serviço da Guarda as primeiras gotas se fizeram sentir.
E com maior ou menor intensidade a verdade é que nos acompanhou até casa, dando a espaços algumas tréguas, "baptizando-nos" assim nesta estreia internacional com uma estreia de uma longa viagem à chuva.
Resistindo até ao fim em parar para colocar os fatos de chuva foi com alguma surpresa que verificamos à chegada estarmos 95% secos... com exceção dos pés e fundo das calças, a verdade é que a proteção do vidro alto da RT trouxe-nos enxutos até casa!
Foram 936km com direito a tudo: frio, chuva e a sempre emblemática primeira saída do país. Tudo isto enriquecido com a descoberta de novos locais como Tordesilhas e Salamanca...Espanha definitivamente a marcar o ano de 2015!!!
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