Antes da partida rumo ao nosso destino final em Marrocos, Asilah, não dispensamos a oportunidade única de conhecer por dentro a Mesquita Hassan II, rica em detalhes e dotada duma tecnologia de construção surpreendente.
Como a única visita disponível para este dia estava marcada para as nove horas da manhã e como ainda ficava a uns três ou quatro quilómetros do hotel onde nos encontrávamos hospedados decidimos apanhar um táxi para não chegarmos atrasados e perdermos a oportunidade de entrar numa mesquita muçulmana e poder ver de perto o baluarte de uma cultura cheia de riqueza e encantamento que, ao meu ver, deverá ser separada dos acontecimentos internacionais que ocorreram nos últimos anos da responsabilidade de um grupo de extremistas que não podemos confundir com a sua população em geral.
O trânsito em Casablanca, aliás como em todas as cidades marroquinas, é caótico e não estava fácil apanhar um táxi vazio no meio daquelas movimentadas avenidas… então, já envolvidos no espírito local, decidimos fazer paragem ao primeiro que passa-se, mesmo que já tivesse ocupantes! O resultado foi imediato e, no mínimo caricato… o taxista de um fiat Uno a cair de podre e que seguia encostado á faixa esquerda travou a fundo ao nosso sinal e atravessou toda a avenida em nossa direção, alheio a todas as apitadelas e insultos de que estava a ser alvo por parte dos restantes automobilistas! Entramos para junto da uma senhora marroquina, muito recatada, véu na cabeça que lhe cobria também o rosto e que mal olhou para nós…deve ter levado o susto da vida dela! E na sua companhia seguimos até ao hospital, um breve desvio da mesquita para onde nos dirigíamos mas que assim permitiu que todos nós chegássemos ao nosso destino. Mais uma experiência a reter…
À luz do dia a Mesquita Hassan II é ainda mais impressionante pois só assim temos noção da sua construção sobre as águas do oceano Atlântico. Foi nesse local construída devido ao versículo do Alcorão tendo antes do início de sua construção, o rei Hassan II declarado a este propósito “Desejo que Casablanca seja dotada de um edifício amplo e belo do qual possa orgulhar-se até o final dos tempos … Eu quero construir esta mesquita na água, porque o trono de Deus está sobre a água. Portanto, os fiéis que lá irão para rezar, para louvar o Criador em solo firme, poderão contemplar o céu e o mar de Deus.”. E bem se pode dizer que o rei cumpriu sua promessa presenteando Casablanca com uma bela mesquita construída com tecnologia de ponta, que impressiona qualquer um, independente da religião.
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Comprados os bilhetes de entrada foi-nos “atribuído” um guia que falava português e que nos acompanhou explicando todos os detalhes e pondo-nos a par de todo o ritual que a entrada e oração na mesquita envolve. Antes de mais, antes de entrar é necessário tirar os sapatos, que são armazenados em sacos plásticos entregues aos visitantes. Já lá dentro ficamos impressionados com as suas dimensões internas e maravilhados com a sua beleza.
Começamos por visitar a sala de orações que possui uma área com capacidade para vinte e cinco mil pessoas e está dividida em dois níveis: o piso térreo usado para os homens e dividido em três naves simétricas, voltadas em direção à Meca e duas “varandas” para as mulheres, que possuem uma entrada separada. Está dotada de um sistema de aquecimento no solo radiante e caixas de som espalhadas, de forma muito discreta, para que todos possam ouvir a voz do líder da oração. Mas foi o seu teto aquilo que mais nos marcou: pesa 1.100 toneladas e possui uma área de 3.400 m². Trata-se de uma estrutura metálica tridimensional coberta com madeira de cedro entalhada e pintada que se abre de forma aos fieis poderem orar, conforme o desejo do rei Hassan II “vendo o céu e o mar de Deus” e que pudemos observar em “ação” abrindo-se como por magia.
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Descemos depois á sala de ablução. Este é o local onde os fiéis se purificam antes da oração: lavam 3 vezes as mãos, boca, nariz, rosto, braços, cabeça, orelhas e pés até a altura do tornozelo. Esta sala é de uma beleza incrível representando cada uma das suas inúmeras fontes a flor de lótus. E visitamos, por fim, a Sala do Hammam que combina as funcionalidades e a estrutura dos seus predecessores, termas romanas e banhos bizantinos, com a tradição turca dos banhos de vapor. E demos por fim esta gratificante visita a esta obra prima da arquitetura árabe- muçulmana.
Deixamos então Casablanca em direção a Rabat, a capital de Marrocos desde 1956, situada no noroeste do país, na Costa Atlântica, na margem esquerda da foz do rio Bouregreg. A sua arquitectura é colonial e as largas avenidas com palmeiras mostram-nos uma cidade também pouco atrativa turisticamente. Procuramos ir conhecer a sua Medina por ser normalmente este o local mais interessante nas cidades marroquinas mas uma vez lá dentro deparamo-nos com um espaço muito pobre em face daquilo que já tínhamos conhecido!
De Rabat levamos, no entanto, uma boa recordação: enquanto atravessávamos a cidade começamos a ouvir das suas inúmeras mesquitas o “chamado para a oração”, o “dhan”, pronunciado em um tom melodioso pelo “muazzin” do alto dos diversos minaretes. No islamismo existem orações obrigatórias (“Salat”) que são praticadas cinco vezes ao dia. Essas cinco orações diárias contêm versículos do Alcorão que são recitados em árabe e são praticadas na alvorada, ao meio dia, no meio da tarde, ao crepúsculo e à noite. Assim, elas vão determinando o ritmo de todo o dia. Enquanto estivemos em Marrocos ouvimos várias vezes este chamado… É algo “místico” e que impressiona no efeito que produz nas pessoas que ao seu som caminham em direção à mesquita para a oração deixando as ruas vazias! Sem dúvida um ritual muito bonito. Em Rabat, talvez porque aqui a população excede largamente a capacidade das pequenas mesquitas da cidade, tivemos oportunidade de nos misturar entre os fieis enquanto rezavam, alheios á nossa presença, durante o nosso passeio pelas ruas da Medina.
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Apesar de capital onde esperaríamos encontrar um pouco mais de “abertura” também em Rabat foi extremamente difícil encontrar em funcionamento um restaurante para almoçar. Tivemos mesmo que recorrer a uma cadeia internacional de fast food existente num centro comercial já á saída da cidade para pudermos matar a fome e assim irmos mais “compostos” até Asilah, onde iríamos pernoitar.
Chegamos a Asilah, na costa noroeste de Marrocos, situada cerca de quarenta e cinco quilómetros a sul de Tânger a meio da tarde, com tempo suficiente para conhecer esta cidade que no passado foi portuguesa, conquistada em 1471 durante o reinado de Afonso V e que nos dias de hoje é um destino a não perder.
Protegida pelas muralhas que a defenderam durante tantos anos, é extremamente pitoresca, com casas brancas de portas e janelas de um azul e verde maravilhosos. Três portas monumentais levam a uma discreta passagem que conduz até à medina. Um passeio pelas ruas desta medina é simplesmente fascinante, especialmente quando surge a vista para o mar. Muito limpa e calma, sem a pressão constante dos vendedores a querem impingir tudo quanto podem aos turistas, foi extremamente relaxante “perdermo-nos” nas suas ruas estreitas, encantados com cada recanto, ora com pinturas nos muros de artistas locais, ora simplesmente com uma entrada florida para as suas casas.
Ficamos num acolhedor hotel ainda a uma distância do centro muralhado mas a uma razoável distância para uma boa caminhada a pé...
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