Desembarcamos… estávamos em Tânger!
Para quem não sabe como chegamos até aqui e tenha curiosidade de descobrir como tudo começou, deixamos a ligação para o nosso anterior artigo…
Brummm… de mota até Marrocos
Estava tudo muito calmo na fronteira e nem sequer nos apercebemos da existência dos famosos “guias” que tentam conseguir o nosso passaporte para nos tratarem da autorização de entrada, em troca, claro, de uns euros.
Aliás, alertados para isto, já levávamos preenchidos todos os documentos necessários à entrada em Marrocos, quer pessoais quer relativos à mota:
documento único da viatura
extensão territorial da carta verde (que deverá ser solicitada com antecedência junto da seguradora e que no nosso caso já estava incluída de base)
carta de condução e, caso não seja o seu proprietário, autorização do mesmo para sua utilização.
Para este controlo levávamos previamente preenchida, a Déclaration d’Admission Temporaire de Moyens de Transport D16ter, ficha que substitui o documento verde de entrada temporária de veículos. O preenchimento da declaração, obrigatório para todos os que pretendem a entrada em Marrocos (novos ou repetentes), poderá ser realizado a partir do site da Administração de Alfândegas e Impostos Indiretos de Marrocos devendo proceder-se à sua impressão (documento em triplicado necessário para entrega à Polícia Alfandegaria). O documento verde disponível na fronteira deverá ser preenchido se não imprimir a declaração por via informática ainda fora de Marrocos.
O policia marroquino, com ar de poucos amigos e de poucas falas, pediu-nos a documentação e sem mais ausentou-se deixando-nos à espera… sem perceber muito bem o motivo da demora lá aguardamos que nos fossem devolvidos os documentos e carimbada a admissão da mota. Íamos conscientes que a atitude a adotar durante o processo de entrada tinha que ser pautada pelo bom senso, por uma boa dose de tolerância e paciência quanto baste. Ultrapassadas as formalidade legais, algumas centenas de metros mais adiante demo-nos por “bem-vindos” a Marrocos!
A CIDADE DE TÂNGER
Do porto onde desembarcámos, seguimos para a cidade, sobre asfalto em obras, começando-se já a notar a diferença na confusão do transito.
Segundo o GPS não estávamos longe do hotel escolhido: Hotel “El Oumnia Puerto”. Primeiro ao longo da costa e daí mais para o coração da cidade, com um ou outro engano, lá chegamos ao nosso destino, especialmente escolhido por ficar relativamente perto da Medina o que nos permitiria explorar-la a pé.
Tânger em termos de beleza, não tem muita…
É uma cidade com arquitetura europeia mas mais suja e desorganizada. O único ponto de interesse é mesmo a sua Medina, que foi a nossa primeira aproximação ao universo marroquino.
Deslocamo-nos até lá voltando a percorrer a avenida junto ao mar pelo meio dos trabalhadores que cimentavam o passeio marítimo. Não é difícil de encontrar…
A Medina de Tânger
Ao longe são logo visíveis nas encosta as suas casas em cascata, caiadas de branco e a muralha que as envolve. Lá dentro, a Medina é composta de vielas estreias e de mercados coloridos e movimentados. É o centro nevrálgico onde tudo acontece, a parte mais antiga e vivida da cidade.
O comércio é intenso, e há todo o tipo de negócios na rua, telemóveis usados, partidos, todo o tipo de roupa e calçado em segunda mão, cigarros “avulso” banca sim, banca sim… e mesquitas, a grande novidade para nós, fruto da religião islâmica do país e que apesar de serem inacessíveis a não muçulmanos impressionam no seu exterior pelos detalhes dos baixos relevos e beleza dos azulejos, com motivos geométricos, que as emolduram.
Deambulamos pelas suas ruas sujas e sinuosas tirando fotografias ainda a medo e aventuramo-nos pelo seu mercado onde os balcões de venda de especiarias, café e frutas ajudam a perfumar o ar que se mescla com o odor de carne e legumes podres, que sobram das vendas…
E quase sem darmos conta passamos por todos os pontos de interesse indicados no nosso guia turístico e estávamos precisamente a sair para a praça 9 de Abril também conhecida por “Grand Socco”.
Foi nesta praça, junto á mesquita Sidi Bou Abib que tomamos pela primeira vez contacto com o dinheiro marroquino: o dirham… Sem quaisquer dificuldades procedemos ao levantamento num terminal multibanco da importância máxima permitida, 2000 dirhams (cerca de 200 euros) para minimizar os custos das taxas aplicáveis por operação
Só mais tarde descobrimos o CARTÃO REVOLUT, que permite realizar pagamentos em mais de 150 países sem qualquer comissão (limite: 6 mil euros – comissão de 0,5%) e levantamentos de dinheiro em ATM internacionais, que normalmente são sempre pagos, entre 200 a 600 euros por mês (dependendo do plano escolhido pelo cliente) também isentos de taxas (levantamentos superiores taxados a 2%)
Kasbah
A próxima paragem era o “kasbah”, situado fora das muralhas, no ponto mais alto da cidade em busca de uma vista panorâmica.
A subida fez-nos crescer a sede e como até já tínhamos dinheiro decidimos entrar numa espécie de mini-mercado para comprar umas bebidas frescas… Demasiado baratas para as notas “grandes” que tínhamos mas lá nos deram o troco e nos inundaram de notas e moedas… E de facto começamos a constatar que o custo de vida por aquelas bandas em nada se podia comparar ao europeu.
Chegados ao topo não estava a ser fácil encontrar “o tal spot” que nos permitiria a almejada vista sobre a cidade até que, já íamos novamente a descer, reparamos num anuncio de um terraço panorâmico de um café/bar. Resolvemos subir…
Em boa hora o fizemos pois era mesmo aquilo que procurávamos!
Tínhamos a Medina aos nossos pés e uma visão 360 graus sobre toda a cidade e sobre o Mediterrâneo mesmo ali ao lado até à costa espanhola.
Era o melhor local de Tanger para fazer uma pausa e experimentar o tão famoso chá marroquino de menta ou “erva buena”! Extremamente doce e sempre a “escaldar” esta bebida típica acompanhou-nos toda a viagem. A forma como nos é servido é também muito peculiar… a tradição é de levantar bem alto o bule característico, feito em latão ou banho de prata, e acertar no copo de vidro…
E logo após apenas umas horas em que por ali andávamos deu para perceber que apesar de estamos tão perto da Europa tudo era bem diferente… Sobretudo a sua “gente”:
Os homens são esguios, têm cara seca e ossuda. Os olhos escavados dão expressão à face vivida pelo sol e pelo tempo. Uns trajam túnicas até aos pés e ostentam longas barbas, outros nem tanto, mas continuam a ser “diferentes”.
Em relação às mulheres, poucos detalhes do corpo estão a vista, porque a exposição física é quase nula. O lenço na cabeça esconde os cabelos e as vestes cobrem-nas do pescoço aos pés.
No fundo são as pessoas o melhor que podemos conhecer numa cidade, num pais… a génese de todos os locais por onde iríamos passar!
TÂNGER /CHEFCHAOUEN / FEZ
ETAPA 2
O raiar do sol, ao amanhecer, revelou-nos uma subida substancial da temperatura… Partíamos rumo a Fez, abandonando o litoral o que fazia prever ainda mais calor!
Tânger era agora uma cidade em alvoroço…
Percorremos um emaranhado de ruas e ruelas em virtude de obras que causavam desvios do percurso indicado no GPS. O trânsito estava simplesmente caótico: pessoas, motas, autocarros e carros circulavam como calha, numa ordem difícil de decifrar. As rotundas eram atravessadas como se quer, tendo em conta alguma perícia e audácia para as contornar. A solução foi esperar pacientemente em vez de serpentear pelo meio do tráfego e não arriscar.
Finalmente abandonamos a cidade e apanhamos a estrada nacional N2 em direção a Chefchaouen.
![](https://static.wixstatic.com/media/7e2aa0_36bc3871ba024bfea8ac429fac966aec~mv2.jpg/v1/fill/w_800,h_600,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/7e2aa0_36bc3871ba024bfea8ac429fac966aec~mv2.jpg)
À medida que nos fomos encaminhando para o interior as montanhas tornavam-se mais acidentadas, escarpadas e rochosas. Estávamos a passar ao lado das montanhas do Riff onde a estrada, sempre muito movimentada por camiões e carrinhas de caixa aberta, se tornava mais estreita e sinuosa levando-nos a uma marcha cada vez mais lenta.
A passagem por várias populações que impunha logo a descida do limite de velocidade de 100 km/h para 80km/h e logo imediatamente para 60 km/h, sempre muito controlados pela policia local, fazia com que as horas fossem passando…
Chefchaouen
Chegámos já ao inicio da tarde ao desvio que nos levaria até Chefchaouen começando a subir uma encosta suave.
O azul é a imagem de marca desta população.
A cor domina as portas, janelas e fachadas dos edifícios da Medina, casas características, a maior parte delas, térreas ou com dois pisos que fazem lembrar as casas da região do Alentejo, ou não tivesse esta região portuguesa sido ocupada pelos árabes ao longo da sua história.
Pretendíamos parar um pouco por estas bandas, percorrer as suas ruas fotogénicas sem um destino propriamente definido que não apenas atravessar as portas que acedem à antiga Medina, perdendo-nos nas ruas e observar a vida a acontecer, encontrar um local para um almoço rápido e voltar à estrada pois Fez, o nosso destino final nesse dia, ainda se encontrava a cerca de 200 km de distancia.
No entanto, chegados ao centro da cidade deparamo-nos com as suas ruas apertadas e sem lugar para estacionar a mota em condições de segurança que nos permitissem abandona-la com o saco “extra” que trazíamos. Optamos então por deixar a azafama daquela malha urbana densa e confusa e dirigimo-nos para o topo da cidade o que nos permitiu uma visão mais ampla da mesma e tornou ainda mais impressionante os tons de azul que parecem escorrer das paredes das casas até ao chão refletindo a cor do céu…
É a cidade ideal para nos começarmos a apaixonar por Marrocos!
Debaixo já de um calor imenso paramos no fim da estrada, junto ao rio, onde este cai em cascata. Aí uma corda separava o “parque de estacionamento” e fomos de imediato abordados por uma espécie de arrumadores de carros, muito comuns em Marrocos, sempre equipados com colete refletor amarelo fluorescente e de olho nos que pensam escapar a pagar-lhes a comissão pelo seu serviço. Não só arranjam o lugar como, supostamente, garantem a sua vigilância. E se dúvida houvesse de que se trata de arrumadores institucionalizados, a credencial que trazem sempre consigo, dissipa-as num segundo mas a verdade é que a sua presença nos deixou logo um pouco desconfortáveis até de nos ausentarmos pelas proximidades…
![](https://static.wixstatic.com/media/7e2aa0_72444983658f41488001078cd74cfcbf~mv2.jpg/v1/fill/w_600,h_600,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/7e2aa0_72444983658f41488001078cd74cfcbf~mv2.jpg)
Acabamos por apenas nos aproximarmos do muro que separava a estrada da zona fluvial onde crianças e jovens se recreavam nas pequenas lagoas lá existentes juntamente com as lavadeiras que tratavam das roupas na água corredia e dos homens que aproveitavam a mesma corrente para lavar os tão característicos tapetes marroquinos…
E, sem almoçar, saímos da cidade azul.
A tarde foi ficando mais laranja… as montanhas acastanhadas e vales verdejantes davam agora lugar a um cenário progressivamente árido e seco mas ao mesmo tempo fascinante e completamente envolvente onde as suaves encostas douradas e reluzentes, pelo capim seco que as reveste e que brilha sob sol implacável “pediam” uma fotografia neste ou naquele ponto de passagem.
O calor era cada vez mais intenso…
Levávamos na cara sopros abafados de um vento quente e brando que nos ia embalando, quase como anestesia e chegámos, finalmente, a Fez debaixo de 34,5 graus depois de mais de seis horas de viagem dando assim por concluída esta etapa de cerca de 300 km…
Por lá ficaríamos dois dias por isso decidimos aproveitar aquele final de tarde na agradável piscina do hotel, num merecido descanso!
Contamos tudo sobre a nossa visita a Fez no próximo artigo totalmente dedicado a esta cidade!
Todos os textos são da autoria de Olga Samões e todas as fotografias deste blog são da autoria de José Carlos Lacerda, exceto onde devidamente identificado. Proibida a reprodução de quaisquer textos e/ou imagens sem autorização prévia dos autores
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