Eram apenas 150 km aqueles que nos separavam daquele que era o tão esperado contacto com algo que nenhum de nós antes tinha visto… o Sahara!
O amanhecer trouxe de volta o calor desarmante já característico do deserto anunciando a dureza da etapa que tínhamos pela frente…
Sempre por estrada em asfalto, cada vez mais estreita mas em perfeitas condições chegamos a Erfoud onde nos surgiu a primeira dificuldade: um desvio cortava a estrada principal e fazia-nos avançar por estradas secundárias estando o GPS sempre e informar que o sentido estava errado… havia então que tentar passar pela estrada em obras ignorando as placas que cortavam o trânsito! E aí se deu o primeiro contacto com a areia, superado com distinção!
Saídos da povoação a estrada começou a entrar pelo deserto. A terra tingiu-se de cinzento… o que víamos não era bem aquilo que estávamos à espera! Era um deserto negro onde um pó preto e pequenas pedras negras cobriam o chão até onde a vista alcançava…
Já não restavam mais gotas no fundo das garrafas de água que tínhamos trazido connosco e era perceptível a desidratação que tomava conta de nós, pouco a pouco.
Até que ao longe avistamos as primeiras dunas de areia coloridas de um laranja impressionante. Isto sim era a nossa ideia do deserto! Nunca a paisagem marroquina nos tinha cativado desta maneira. O entusiasmo era tal que até a sede passou e nem sentíamos os 40 graus sufocantes que já marcava o termómetro da mota!
Mas a tudo isto começou a juntar-se um vento seco, quente, vindo das profundezas das dunas de areia que nos começavam a ladear e que queimava as nossas faces…se com o capacete fechado estava um calor insuportável, com ele aberto era impossível viajar!
Já tínhamos passado Rissani e seguíamos agora pela N13 em direção a Merzouga e íamos passando as várias placas na estrada que indicavam os diversos alojamentos da zona por trilhas que não conseguíamos distinguir do resto do terreno feito de pedra/gravilha e areia. E conforme nos tinha sido previamente informado lá apareceu no lado esquerdo a placa indicativa do “Aubergue du Sud”. No entanto não nos foi aconselhado seguir por esta pista maioritariamente de areia durante 8 km por ser demasiado “todo o terreno” para o tipo de mota em que seguíamos. Deviríamos antes ir quase até á entrada de Merzouga e aí virar para trás junto a umas bombas de gasolina e seguir por uma estrada primeiro de alcatrão e depois em gravilha compactada que nos levaria até lá.
Estava bom de ver que com indicações tão vagas no terreno não ía ser nada fácil encontrarmos o caminho certo.
A verdade é que a poucos quilómetros de Merzouga lá avistamos a bomba de gasolina mas junto á mesma não conseguíamos ver qualquer estrada de alcatrão por onde virar… Pusemos então a hipótese de haver mais que uma bomba e como tal seguimos…instantes depois entrávamos na povoação.
Era meio dia, não se via vivalma…parecia uma aldeia fantasma! Esta aldeia mistura-se ela própria com as dunas de Erg Chebbi que a rodeiam, toda ela é construída com adobe que consiste numa construção misturando palha, terra barrenta, areia e nalguns casos já cimento e tijolo de barro. Mas por lá não nos detivemos pois o nosso GPS, previamente carregado com as condenadas do Auberge, constantemente nos mandava virar para trás e acabamos por fazer o retrocesso pelo meio do nada, onde supostamente marcava uma estrada, mas que à nossa vista era apenas mais um grande terreno de gravilha e areia. Com grande dificuldade seguimos a seta de direção e acabamos por regressar á estrada por onde tínhamos vindo fazendo o percurso de novo até á bomba de gasolina.
Continuávamos sem ver a bendita estrada que nos levaria para o hotel. E assim sendo resolvemos tentar “obedecer” ao GPS que nos indicava uma mudança de direção uns quilómetros mais à frente. Ficamos foi incrédulos com o local onde teríamos que virar para nos embrenharmos no deserto…pouco ou nada diferenciava a tal pista do resto da paisagem! E nada se via ao fundo da mesma que não fossem dunas e mais dunas de areia…Mas decidimos mesmo assim virar. Acho que era já o calor e a desidratação a condicionar o nosso cérebro! Imediatamente deu para perceber que a gravilha era só uma pequena camada que tapava superficialmente a areia existente. Avançamos de forma cada vez mais instável ainda durante umas centenas de metros mas acabamos por desistir e decidir regressar á estrada principal…primeiro porque a pista era cada vez mais invisível dando-nos muito pouca segurança por onde deveríamos seguir e ainda faltavam bastantes quilómetros segundo o GPS até ás coordenadas finais depois porque em face da areia que cada vez era em maior quantidade a nossa queda era iminente… Saí mesmo da mota para tentar facilitar a viagem de regresso á estrada mas acabei por ter que regressar pois era impossível caminhar àquela hora debaixo daquele sol abrasador e respirar aquele ar seco e sufocante que ultrapassava os 42 graus de temperatura.
Frustrada aquela tentativa resolvemos ir até á bomba de gasolina para pedir ajuda… a ideia seria arranjar um “guia” que nos levasse até ao Auberge do Sud pelo melhor caminho possível. E com alguma sorte (e promessa de alguns dirahms!) conseguimos convencer um marroquino que por lá esperava um grupo para levar para um outro alojamento a acompanhar-nos nesta missão impossível deserto dentro… Seguimos pela tal estrada existente mesmo junto á bomba como nos tinha sido indicado mas que ainda não tínhamos vislumbrado de tal forma era igual a tudo o resto … e os primeiros quilómetros até que foram relativamente fáceis! Seguíamos lentamente atrás do marroquino que entretanto tinha montado a sua motoreta e descontraidamente progredia por aquele instável terreno e nos dava grandes avanços parando de seguida para nos esperar…E de repente, não havia mais “estrada”, avançávamos pelo meio das dunas pisando pura areia, seguindo o trilho da motoreta do nosso “guia” que, em zig-zags ía escolhendo o melhor percurso!
Os nossos corações aceleravam tanta era a adrenalina resultante de a qualquer momento podermos cair… e foram várias as vezes que sentimos tal “ameaça” até que foi inevitável! Mesmo junto ao nosso destino, diria mesmo a umas dezenas de metros de terminarmos aquela louca viagem, o deserto venceu! Uma queda sem consequências na areia fofa… tudo filmado na GoPro para a posteridade…
O alojamento escolhido “Auberge du Sud” situava-se mesmo na orla das dunas de Erg Chebbi e visto ao longe parecia uma fortaleza, murado a toda a volta, envolvendo as diversas casinhas térreas onde se situavam os vários quartos. O encanto pitoresco do local descobre-se já dentro de portas: na receção recheada de elementos decorativos multicolores alusivos ao deserto, nos seus pátios interiores e na sua fenomenal piscina com a melhor vista para as dunas que alguma vez se possa imaginar…
O calor era bastante e a sede insuportável. Estávamos exaustos e era urgente recarregar baterias! Temíamos que mais uma vez não nos servissem almoço…mas a oferta de um chá de menta mal chegamos afastou-nos tal receio. Apesar de estar a escaldar a verdade é que retemperou as nossas forças. E foi-nos prometido para dali a pouco um almoço típico da zona. Delicioso, por sinal!
Já instalados num quarto típico e acolhedor mas sem ter o ar condicionado a funcionar, nem quisemos ir questionar esta situação… era urgente mergulhar naquela piscina que parecia saída de um conto de fadas…
Após dois ou três mergulhos ficamos como novos e pudemos finalmente relaxar e apreciar aquele verdadeiro oásis no deserto!
E por lá fizemos amigos! Conhecemos dois brasileiros, a Elizabeth e o Fernando, um italiano, o Casimiro e claro, um português, o Zé Maria !!!! Tinham chegado no dia anterior pela noite e aproveitavam como nós para se refrescar na piscina… Por eles tomamos conhecimento da possibilidade de nessa mesma noite ir para o coração do deserto e por lá pernoitar num acampamento berbere. Essa ideia agradou-nos e fomos logo saber se os poderíamos acompanhar em tal excursão.
A partida ficou marcada para as 7 da tarde… Até lá ainda teríamos tempo para desfrutar mais um pouco da piscina e mesmo de ir pisar as areias escaldantes do deserto mesmo ali á porta do Aubergue… com as dunas de Er Chebbi no horizonte num silencio sepulcral… um cenário perfeito!
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