O raiar do sol, ao amanhecer, revelou-nos uma subida substancial da temperatura... Partíamos rumo a Fez, abandonando o litoral o que fazia prever ainda mais calor!
Tanger era agora uma cidade em alvoroço... Percorremos um emaranhado de ruas e ruelas em virtude de obras que causavam desvios do percurso indicado no GPS. O trânsito estava simplesmente caótico: pessoas, motas, autocarros e carros circulavam como calha, numa ordem difícil de decifrar. As rotundas eram atravessadas como se quer, tendo em conta alguma perícia e audácia para as contornar. A solução foi esperar pacientemente em vez de serpentear pelo meio do tráfego e não arriscar.
Finalmente abandonamos a cidade e apanhamos a estrada nacional N2 em direção a Chefchaouen.
À medida que nos fomos encaminhando para o interior as montanhas tornavam-se mais acidentadas, escarpadas e rochosas. Estávamos a passar ao lado das montanhas do Riff onde a estrada, sempre muito movimentada por camiões e carrinhas de caixa aberta, se tornava mais estreita e sinuosa levando-nos a uma marcha cada vez mais lenta.
A passagem por várias populações que impunha logo a descida do limite de velocidade de 100 km/h para 80km/h e logo imediatamente para 60 km/h, sempre muito controlados pela policia local, fazia com que as horas fossem passando…
Chegámos já ao inicio da tarde ao desvio que nos levaria até Chefchaouen começando a subir uma encosta suave.
O azul é a imagem de marca desta população. A cor domina as portas, janelas e fachadas dos edifícios da Medina, casas características, a maior parte delas, térreas ou com dois pisos que fazem lembrar as casas da região do Alentejo, ou não tivesse esta região portuguesa sido ocupada pelos árabes ao longo da sua história.
Pretendíamos parar um pouco por estas bandas, percorrer as suas ruas fotogénicas sem um destino propriamente definido que não apenas atravessar as portas que acedem á antiga Medina, perdendo-nos nas ruas e observar a vida a acontecer, encontrar um local para um almoço rápido e voltar à estrada pois Fez, o nosso destino final nesse dia, ainda se encontrava a cerca de 200 km de distancia.
No entanto, chegados ao centro da cidade deparamo-nos com as suas ruas apertadas e sem lugar para estacionar a mota em condições de segurança que nos permitissem abandona-la com o saco “extra” que trazíamos.
Optamos então por deixar a azafama daquela malha urbana densa e confusa e dirigimo-nos para o topo da cidade o que nos permitiu uma visão mais ampla da mesma e tornou ainda mais impressionante os tons de azul que parecem escorrer das paredes das casas até ao chão refletindo a cor do céu… é a cidade ideal para nos começarmos a apaixonar por Marrocos!
Debaixo já de um calor imenso paramos no fim da estrada, junto ao rio, onde este cai em cascata. Aí uma corda separava o “parque de estacionamento” e fomos de imediato abordados por uma espécie de arrumadores de carros, muito comuns em Marrocos, sempre equipados com colete refletor amarelo fluorescente e de olho nos que pensam escapar a pagar-lhes a comissão pelo seu serviço. Não só arranjam o lugar como, supostamente, garantem a sua vigilância.
E se dúvida houvesse de que se trata de arrumadores institucionalizados, a credencial que trazem sempre consigo, dissipa-as num segundo mas a verdade é que a sua presença nos deixou logo um pouco desconfortáveis até de nos ausentarmos pelas proximidades…
Acabamos por apenas nos aproximarmos do muro que separava a estrada da zona fluvial onde crianças e jovens se recreavam nas pequenas lagoas lá existentes juntamente com as lavadeiras que tratavam das roupas na água corredia e dos homens que aproveitavam a mesma corrente para lavar os tão característicos tapetes marroquinos…
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Sem almoçar saímos da cidade azul.
A tarde foi ficando mais laranja…
...as montanhas acastanhadas e vales verdejantes davam agora lugar a um cenário progressivamente árido, seco, fascinante e completamente envolvente onde as suaves encostas douradas e reluzentes, pelo capim seco que as reveste e que brilha sob sol implacável pediam uma fotografia neste ou naquele ponto de passagem.
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O calor era cada vez mais intenso…levávamos na cara sopros abafados de um vento quente e brando que nos ia embalando, quase como anestesia.
Chegámos finalmente a Fez, debaixo de 34,5 graus depois de mais de seis horas de viagem dando assim por concluída esta etapa de cerca de 300 km…
Por lá ficaríamos dois dias por isso decidimos aproveitar aquele final de tarde na agradável piscina do hotel, num merecido descanso!
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