Á hora marcada um jipe esperávamos á porta…munidos do essencial para passar uma noite e de muita água para o caminho que seria percorrido primeiro de jipe e depois de camelo, durante uma hora, até ao acampamento, subimos todos para o tejadilho para aí viajarmos, dunas dentro, numa perspetiva mais radical e fresca…
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O lenço comprado na Medina de Fez e habilidosamente colocado por um dos nossos guias ao acampamento completava o “look tuareg” e simultaneamente protegia do sol já mais brando do final da tarde!
Após umas grandes sacudidelas e solavancos chegamos ao local onde um conjunto de camelos que já esperava pelo grupo. Cada um teve direito ao seu respetivo camelo. O Fernando partiu à cabeça da comitiva, seguia logo atrás a Elizabeth, eu, o Zé Carlos e o Casimiro. O Zé Maria encerrava o cortejo. Os camelos seguiam alinhados, presos uns aos outros, com uma corda que garantia passadas a um ritmo sincronizado. Passado pouco tempo da partida o Casimiro pediu para descer… preferiu ir a pé e não fazer sofrer o seu camelo e aproveitou para ir tirando fotografias, para memória futura.
Não éramos os únicos a explorar as dunas do Sahara. Havia grupos de todas as nacionalidades a fazer vários percurso e as trilhas, bem visíveis na areia, comprovavam que o vaivém de turistas e camelos é intenso e diário.
Mas, a dada altura, á nossa volta, só uma imensidão de espaço! Uma visão 360 graus de dunas atrás de dunas delimitadas por arestas muito bem definidas que revelam de forma precisa o contraste entre a luz e sombra, durante as várias etapas do dia.
O crepúsculo começou então a tingir a areia num tapete cor de laranja a perder de vista e o céu limpo deu o protagonismo da noite à lua cheia que nos iluminou a todo o tempo. As dunas tornaram-se azuis, esbranquiçadas e as temperaturas baixaram naturalmente. Não havia brisa no ar, nem um ruído que quebrasse aquele silêncio absoluto.
O nosso grupo foi encaminhado para o acampamento num sopé de um conjunto de dunas mais resguardado. O sol já se tinha posto, a noite já tinha rendido o dia, mas tudo ainda emanavam calor. As tendas dispunham-se à volta de um terreiro improvisado. Tudo forrado com cobertores e panos coloridos de toda a espécie e feitio. Aí abandonamos os nossos amigos de quatro patas que nos tinham carregado durante a última hora e que no cimo de uma duna ficaram a descansar até ao dia seguinte e fomos recebidos no acampamento pelos empregados locais e um grupo de mais turistas que tinham chegado mais cedo que nós.
Jantámos sopa com o sabor característico dos cominhos moídos, uma das especiarias mais usadas na cozinha marroquina e como segundo prato, fomos presenteados com um tajine de cordeiro, que nos soube muito bem e acabámos a refeição com o tradicional chá de menta, que bebemos enquanto conversávamos…
Antes de ir dormir uma improvisada sessão de tambores… no meio do silêncio fazia-se ouvir o som vindo da suas peles curtida a vibrar às mãos dos nossos anfitriões berberes! Ainda tivemos oportunidade de aprender a tocar nos mesmos acompanhando uma música oriunda dos nossos países de origem…
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Ao aperceberem-se que éramos portugueses soltaram logo uma frase caricata que não percebemos á primeira dado o sotaque estranho com que a proferiam: “se quexes, quexes, se não quexes, não quexes!” ou seja, “se queres queres, se não queres, não queres!” e prontamente sugeriram como musica nacional o “malau, malau” ( conhecido por Ó Malhão Malhão...) estranha a forma como somos vistos no mundo!
Estava na hora de recolher pois poucas horas depois teríamos que despertar antes do nascer do sol. Aproveitámos o breu da noite para contemplar o céu estrelado deitados nos tapetes que cobriam o chão á entradas das nossas tendas… contemplar aquele céu salpicado de estrelas cintilantes, como nunca tínhamos visto antes serviu de embalo anestesiante, sob o silêncio mais absoluto que alguma vez pudemos experimentar.
Dormimos sobre o cansaço que carregávamos connosco e ainda de noite retomamos os camelos que por lá também tinham pernoitado para contemplar o postal em movimento que é o nascer do Sol no deserto do Sahara! Um momento único do dia…
Partimos com a primeira claridade da aurora a despontar no céu e á medida que o sol ia espreitando no horizonte as dunas voltaram a mudar de cor, a temperatura subia progressivamente e na areia observávamos a dança de sombras, de duna a duna, à medida o sol subia.
Montar camelos durante uma hora de trajeto para o acampamento no dia anterior já não tinha sido das experiências mais agradáveis que vivemos e mais uma hora no regresso ao jipe foi uma tortura… mas completamente compensado pela beleza dos momentos vividos!
Regressados ao “Auberge do Sud” despedimo-nos, após tomarmos o pequeno almoço, dos nossos recentes amigos brasileiros que partiam ainda naquele dia rumo a Ouarzazate e decidimos que descansaríamos um pouco antes de nos fazermos de novo ao deserto, agora de jipe juntamente com o Zé Maria e o Casimiro, em busca de alguma adrenalina e assim aproveitar da melhor forma o resto do dia que ainda tínhamos por aquelas bandas antes de nos fazermos de novo á estrada, rumo ao vale do Dadés…
Mas o calor do quarto, que continuava sem ar condicionado, tornou impossível o nosso desejo… Informados de que o ar condicionado não estava estragado, apenas desligado até ás 17h porque era impossível com o calor que se fazia sentir colocar os motores a trabalhar antes dessa hora, restou-nos a piscina para tentar descansar… Mas aí nem á sombra se estava bem! O ar era de tal forma seco e quente que só mesmo dentro de água era suportável…
Foi assim com poucas horas de sono que voltamos a entrar num jipe! Seria outra forma de conhecer as famosas dunas de Erg Chebbi, ali vizinhas, que se elevam por vezes a uns respeitosos cento e cinquenta metros de altura e que e se estendem até á fronteira com a Argélia. Toda a parte lateral Sul destas dunas estão rodeadas por montanhas que separam Marrocos do território argelino, uma fronteira mais ou menos natural já que as fronteiras entre estes dois países não estão delimitadas fisicamente, tendo apenas de um lado e outro militares com jipes e postos de controlo militar, sendo intransponíveis dado do corte de relações entre os dois países.
Fomos passando por várias “aldeias” nómadas não resistindo em fazer algumas pausas para fotografar aquela realidade tão diferente…paramos também junto ás rochas que nos mostram, quando molhadas, os famosos fósseis marinhos, prova de que em tempos todo aquele território foi coberto pelo mar.
Começamos, no entanto, a perguntar-nos quando iríamos fazer “rally” nas dunas…é que até aquele momento tínhamos andado apenas por pistas mais ou menos definidas e apesar de interessante estava a ser apenas um passeio pelo deserto e não era por isso que tínhamos pago… faltava a parte da emoção! Questiono o nosso motorista sobre o assunto a resposta é que q excursão era assim mesmo…que andar a fazer corridas nas dunas até era proibido e portanto para tal o custo seria diferente do que estávamos a pagar! Ou seja, proibido mas era tudo uma questão de números… Sentindo-nos enganados pedimos para cancelar a viagem e regressar ao hotel.
Por lá passamos o resto do dia não nos atrevendo mais a sair enquanto o sol não nos desse tréguas! Só mais ao fim da tarde nos voltamos a aventurar fora de portas… o mar de areia que tínhamos logo ali á nossa frente convidava-nos a uma caminhada! Mais uma vez envoltos no silêncio daquele espaço, num cenário feito de areia e mais nada, a perder de vista, foi uma sensação única andar descalços sentindo cada um dos seus infinitos grãos muito finos e ainda quentes nos nossos pés…
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