As expectativas já se concentravam em torno do próximo destino: as duas gargantas dos vales do rio Todra e do rio Dadés mas ainda tínhamos pela frente a saída pelas pistas de areia até á estrada de alcatrão para continuarmos a viagem…no entanto, com a ajuda dum jipe do hotel que transportou as malas e nos indicou o caminho, tudo correu sem qualquer sobressalto de maior.
Partíamos agora rumo a Tinerhir, a localidade onde desviaríamos para conhecer o vale do Todra, passando por diversas populações locais. De todos os trajetos percorridos foi este o que mais gostámos: nas aldeias que fomos atravessando havia mais gente fora de casa e na rua abundavam os mercados a céu aberto, que atravancavam o trânsito na única via mas que nos permitia um contacto mais de perto com os seus habitantes. Tirei centenas de fotos de cada pormenor que surgia a cada curva…infelizmente todas se perderam com a máquina que inadvertidamente me caiu do bolso já no fim desta etapa. Um sentimento de frustração enorme nem tanto pela máquina em si mas por ficar sem tantos registos, tão autênticos e únicos, tão irrepetíveis…ficarão apenas para sempre na memória!
Com o deserto para trás uma boa parte deste caminho rumo ao oeste faz-se ao longo de uma estrada que corre paralela ao fértil vale do rio Dadés. O relevo é ainda marcado pela presença do Alto Atlas, a norte, mas o percurso conta com uma via pouco acidentada.
De Tinerhir até às famosas gargantas do Todra é um pequeno passeio de poucos quilómetros, atravessando uma sequência quase ininterrupta de palmeiras, a perder de vista. As mesmas que garantem a continuidade das colheitas de tâmaras e respetiva comercialização que são a alavanca da economia local.
A estrada mais á frente começa a parecer um estreito corredor, cor de laranja, de paredes verticais, tão profundo e abrupto que nem a luz do sol consegue penetrar e alcançar as margens do Rio Todra. Chamam-lhe “Gorges” (garganta) e percebe-se porquê…
A margem e o rio estendem-se lado a lado. Em terra, a estrada de betão serpenteia ao longo do rio e neste, a água corre entre os bancos de seixos, arrastados e amontoados pelas correntes. Muitas pessoas caminham descalças sobre o leito, já que a água lhes dá pelos tornozelos. Na estrada o vaivém de carros e camionetas, camelos para alugar e bancas com turbantes, lenços e mais umas quantas recordações para quem quiser comprar tornam ainda mais demorado fazer o percurso. Paramos no local mais “mediático” e juntamo-nos aos que por ali aproveitavam para se refrescar naquelas águas límpidas.
O próximo destino era Boulmane onde pernoitaríamos no Hotel Xaluca Dadés.
Abandonamos o rio Todra e regressamos á N10 para os últimos 50 quilómetros. Não foi, no entanto, um percurso fácil…começou-se a levantar vento de tal forma forte que as rajadas nos fizeram diminuir consideravelmente o ritmo da viagem e temer mesmo uma queda de tal forma nos sentíamos empurrados em várias e aleatórias direções… Ao longe víamos remoinhos de terra a formar-se e a elevar-se no ar de forma assustadora! Um deles, felizmente dos mais pequenos, chegou mesmo a atingir-nos no meio da estrada. Foi também nesta parte da etapa que perdi a máquina que tinha colocado no bolso…provavelmente as rajadas de vento que abanavam o casaco fizeram-na cair sem eu ter dado conta tendo apenas dado pela sua falta já no quarto do hotel quando a procurava para rever as fotos tiradas.
A pequena localidade de Boulmane não tem muito para oferecer. Por isso, após um breve almoço no hotel, único sitio onde nos foi possível fazer uma refeição pois devido ao Ramadão todo o comércio se encontra com horários alterados, nomeadamente os restaurantes que só abriam para o jantar decidimos fazer uma incursão pelo vale do rio Dadés acima.
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Seguimos vários quilómetros com algumas perspectivas notáveis sobre o vale onde os oásis verdes e os kasbahs do interior se misturam com a rocha avermelhada caracterizada pelos “dedos de macaco” dando á paisagem uma tonalidade bicolor que parece ter sido pintada a pincel, até que a estrada começou a ficar em muito mau estado devido ás obras inacabadas de que estava a ser alvo, o que fez com que tivéssemos que regressar sem atingir o seu topo e assim ter a perspectiva da sua famosa estrada em ziguezague serpenteando na montanha.
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